Quando pensamos na arquitetura e no projetar, nossa atenção principal é sempre chamada para a estética. De fato, um projeto agradável aos olhos se torna algo que gostamos de experienciar, seja a edificação uma casa, na qual passamos grandes períodos de tempo, ou algum lugar que visitamos. Fato é que a experiência do indivíduo é o que torna a arquitetura memorável – para bem ou para mal.
Pensando na ideia do porquê apreciamos tanto a estética e o visual como principal atributo da arquitetura, é importante pensar na ligação histórica que as construções têm com as artes visuais.
Por exemplo, pensar no Partenon remete a toda a cultura artística grega, como pensar no Coliseu ou no Panteão remete a toda a cultura artística romana, tanto que o apreço pela arquitetura como escultura dessas civilizações Clássicas foi amplamente retomado na época do Renascimento. Ou, mais adiante na escala histórica, o Barroco teve sua expressão artística extremamente ligada aos espaços e à participação monumental da arquitetura de forma simbólica na época.
No entanto, tanto como a visão, todos os nossos sentidos fazem parte da experiência de um lugar. Os sons, odores, os materiais, dentre outros que são ligados aos nossos outros sentidos também nos marcam de forma bastante importante, apesar de normalmente serem reconhecidos quando temos experiências ruins com eles, e normalmente não são reconhecidos por todos quando possuem resultados positivos.
Dentro dessas experiências, destaca-se a importância da audição no dia a dia. Dentro daquilo que fazemos, tocamos e interagimos, de uma forma geral, é quase impossível encontrarmos algo que não emita um som específico ou característico. A urbanização trouxe um grande número de pessoas para locais centrais, o que também significa um grande número de atividades sendo desempenhadas por unidade de espaço. Os veículos que usamos, os vizinhos, e nós próprios interagimos constantemente com a paisagem sonora, interna ou externa, modificando-a e percebendo-a de acordo com nossas próprias características.
A acústica tem um papel importante em nosso descanso, conforto e estresse – a poluição sonora nos traz desconforto, incômodo e agitação. Sendo assim, mais uma vez é importante ressaltar o que foi dito anteriormente: muitas vezes somente percebemos a importância da acústica quando presenciamos alguma situação na qual o excesso sonoro nos incomoda.
No entanto, ela também tem o seu impacto mesmo quando não é imediatamente percebida. De modo geral, em qualquer local há uma grande influência da forma como estar submetido a ruídos indesejados pode nos afetar. E isso pode ocorrer, por exemplo, ao alterarmos a estanqueidade acústica de um local. Isso quer dizer, de forma simples, que qualquer espaço de passagem que deixarmos para o som traz consequências acústicas ao local. Dessa forma, por exemplo, uma janela cujas folhas são soltas e possuem um espaço vazio entre elas, por mínimo que seja, possui um desempenho acústico menor do que uma na qual as folhas travam sem deixar espaço entre elas.
É claro que em alguns projetos arquitetônicos, eventualmente é escolhido algum material que não é aquele de maior desempenho acústico – isso vai depender muito da natureza do projeto, daquilo que é mais valorizado pelo cliente ao qual ele é apresentado, etc. No entanto, ressalta-se aqui a capacidade de integrar materiais acústicos em projeto, sem afetar a estética, por exemplo.
Primeiramente, há projetos que apresentam materiais acústicos feitos com preocupação estética, não apenas técnica. Projetos muito conhecidos, como as filarmônicas ao redor do mundo, restaurantes, locais de shows, auditórios, escolas, igrejas e até mesmo casas feitas com esse parâmetro de projeto muitas vezes se encontram listados entre os mais belos. E sempre qualquer coisa que possua dois atributos positivos ao mesmo tempo, ou seja, bom desempenho geral, chama a atenção por ser eficiente, o que deve sempre ser um dos principais resultados buscados por um projeto arquitetônico, uma vez que qualquer arquitetura é intrinsecamente feita para ser usada.
Em segundo lugar, ressalta-se também a utilização das estratégias de projeto iniciais para se fazer um espaço que tenha uma boa atmosfera sonora e que seja bonito. Isso se justifica com o fato de que é muito mais fácil se pensar em soluções agradáveis ao olhar em fase de projeto do que driblar características, materiais e estruturas já existentes para se contornar uma situação que poderia ter sido tratada anteriormente. Claro que existem obras de reformas e intervenções acústicas que são muito bem sucedidas em casar desempenho e estética, mas há de se pensar que um espaço acusticamente pensado é um espaço com desempenho acústico a nível de projeto, o que com certeza, se bem feito, gera espaços com níveis próximos aos ideais para a situação pensada.